16° GRITO DAS EXCLUÍDAS E DOS EXCLUÍDOS!

De um lado, o Estado paramentado com potentes caixas de som, apresentando ao povo extasiado seu poder bélico - seus soldados hierarquicamente organizados, divididos em vários agrupamentos, armados até os dentes; de outro lado, trabalhadores do Movimento Sem Terra, alguns militantes marxistas do PSTU e do POR, e um punhado de anarquistas - gritando por pão, terra e justiça social.

A cena se repete todos os anos, porém com cada vez menos militantes. No 16° Grito das Excluídas e dos Excluídos, faltaram os representantes da Igreja Católica (em tempos atrás, bastante envolvida em questões sociais, principalmente na luta pela terra para agricultores sem-terra) e de muitos partidos de esquerda. Não encontrei ninguém do PCdoB, do PSB, do PCB, do PT... Mas onde estavam esses "comunistas"? Fazendo campanha eleitoral, é lógico! Em época de eleição, pega mal sair nas ruas gritando "palavras de ordem" - mais interessante aos candidatos que disputam o poder é engrossar o caldo do Estado, cantando o Hino Nacional, dando uma de laranja, sorrindo para o povão.

A Igreja, pelo visto, não estava mobilizada: a Renovação Carismática Católica vem cumprindo corretamente sua tarefa de eclipsar de uma vez por todas a Teologia da Libertação, desinteressando os católicos das questões sociais, impregnando-os com o ritmo do "neo-pentecostalismo" católico.

Por volta das dez horas da manhã, quando os anarquistas arriscavam cantar o Hino às Barricadas, disputando com a potente sonoridade estatal, um grupo de mais ou menos trinta policiais penetrou o "Grito" e, por mais absurdo que seja, cercou os jovens libertários. Ora, esse tipo de protesto, a meu ver, é sem sentido. O Grito das Excluídas e dos Excluídos deveria, a meu ver, ser realziado em uma outra data, em um outro lugar - sem tentar "peitar" o poderio estatal. Poderia ser realizada uma campanha de esclarecimento para a população durante todo o mês de setembro, conscientizando-a da falta de sentido em se comemorar o dia 07: explicar a necessidade de lutar globalmente por menos armas e mais pão, pela socialização de terras, por mais educação, mais saúde, paz e tolerância. Não há lógica em comemorar uma independência que ainda não foi plenamente conquistada. Quando os Estados, em várias partes do mundo, apresentam suas armas, temos uma pálida idéia do quanto nossas sociedades permanecem violentas e atrasadas.

Seremos independentes e realmente livres quando a Natureza for respeitada, amada e venerada; quando os capitalistas europeus e norte-americanos forem desbancados da América Latina; quando as instituições religiosas autoritárias deixarem de existir; finalmente, quando o capitalismo, o socialismo de Estado e todas as outras formas de exploração forem banidas da face da Terra.

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