VITÓRIA CRISTÃ

As idéias básicas difundidas pelos "teólogos da prosperidade" são, em linhas gerais, as seguintes: a riqueza material é sinal de Bênção de Deus, portanto, se você é rico, foi Deus quem te escolheu e está te abençoando; já a pobreza material é consequência do pecado, ou seja, se você é financeiramente pobre significa que você é um grande pecador.
Seguindo essa linha de raciocínio, ao converter-se verdadeiramente, aceitando Jesus como único salvador, além da salvação da alma o crente viverá seus dias na Terra em plena fartura e abundância de bens: terá uma boa casa, um ou mais carros (se dermos crédito às propagandas da Igreja Universal do Reino de Deus, o fiel chegará a ter mansões, automóveis, fará viagens internacionais), etc. Já o "descrente" catador de lixo, pobre e sujo, que morrer na sarjeta, é culpado por sua própria miséria - visto não ter aceitado a Cristo, tornou-se vítima do diabo.
A idéia de predestinação é outro argumento utilizado de modo absurdo pelas igrejas-empresas que florescem no Brasil e no mundo: Deus, por motivos que só Ele conhece, selecionou algumas pessoas para serem salvas, deixando outras à condenação eterna, no inferno. Não adiantaria questionar a Vontade Suprema nem perguntar o "porquê" de tal seleção.
Unindo predestinação e prosperidade, temos como resultado final a ideologia protesante neo-pentecostal e pentecostal: se você possui muitos bens materiais, se é cheio da nota, foi Deus quem te escolheu desde antes do mundo existir, para te abençoar nesta vida e na vida futura no Reino dos Céus; mas, como o salário do pecado é a morte, se você é pobre, a culpa é sua, pecador, que não aceitou a Cristo como Salvador - tua pobreza é conseqüencia de teu pecado - e Deus, por um motivo Supremo que só Ele sabe qual é, permitiu tua vinda ao mundo mas te excluiu, autorizou tua pobreza material nesta vida e fora do Paraíso futuro.
Interessante notar o quanto essa "teologia (capitalista, norte-americana) da prosperidade" está em desacordo com o Evangelho. O Novo Testamento é permeado de ensinamentos do Cristo Jesus, ensinamentos que, se fossem realmente seguidos ao menos por um terço dos cristãos, mudariam profundamente a face do mundo.
Esquecem os "evangélicos", por exemplo, que, para o moço rico, o que lhe faltava para ser perfeito era vender o que possuía e dar o dinheiro obtido aos pobres... "e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me" (MATEUS, 19, 21). Esquecem os "predestinados" que, segundo o próprio Cristo "o rico dificilmente entrará no Reino dos Céus" (MATEUS 19, 23). Entretanto, não são apenas estes os versículos "esquecidos" - ou boicotados - pelos pastores.
"Então Jesus entrou no Templo e expulsou todos os vendedores e compradores que lá estavam. Virou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: 'Está escrito: Minha casa será chamada casa de oração. Vós, porém, fazeis dela um covil de ladrões!'" (MATEUS 21, 12-13).
Quando nos dirigimos à praça Gentil Ferreira, no bairro do Alecrim, encontramos em volta da igreja Assembléia de Deus, várias lojas "evangélicas" nas quais além de bíblias de todos os preços (o livro mais vendido no mundo!), estão à venda: livros de doutrina - nada contra a venda de livros de estudo! - cd's e dvd's gospel e... Chaveiros, canetas, adesivos, camisas, blusas de uma dita "moda evangélica" - o que facilmente nos faz compreender o quanto os cristãos estão inseridos nas coisas do mundo, no comércio puramente capitalista, na aquisição de mais valia e na politicagem da pior qualidade.
Nos Atos dos Apóstolos, capítulo II versículos 44-46, está escrito: "Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um". No mesmo livro, no capítulo IV versículos 32-35: "A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum. Com grande poder os apóstolos davam o testemunho da ressurreição do Senhor, e todos tinham grande aceitação. Não havia entre eles necessitado algum. De fato, os que possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam os valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se então, a cada um, segundo sua necessidade."
Muto se fala em "verdadeira igreja de Cristo" e em viver o verdadeiro Evangelho. Entretanto, segundo o próprio Evangelho, aquele que conhece a Cristo anda como Ele andou. Mas quem, atualmente, procura viver como João Batista, Cristo ou os verdadeiros apóstolos viveram? Seria o Silas Malafaia, o Valdemiro Santiago, o R. R. Soares ou o Bispo Macêdo? Esses são empresários e não "servos do Senhor", jamais estariam dispostos a enfrentar o "império romano" de nossos dias (preferem as alianças políticas) e nunca viverão no deserto, comendo "gafanhotos e mel silvestre". Qual igreja contemporânea vive conforme se organizaram os primeiros e autênticos seguidores de Jesus Cristo, as primeiras congregações cristãs? Nenhuma das que estão em evidência. Os cristãos dos primeiros tempos procuravam romper espiritual e materialmente com os valores do mundo, enquanto os cristãos de hoje, em sua maioria, buscam inserção econômica e status político, quando não estão envolvidos em trapaças da pior categoria. Pregam uma separação das coisas do mundo, mas a "Vitória" tão propalada pelas igrejas, mais do que qualquer coisa parece ser uma vitória financeira - quando deveriam se preocupar primeiramente em alcançar o Reino dos Céus, para que tudo o que fosse necessário lhes fosse acrescentado; e quando nosso tesouro deve ser espiritual, e não material, conforme pregou o Nazareno Filho de Deus.
A suposta certeza de salvação deixou a maioria dos cristãos orgulhosos, um orgulho malvado, preconceituoso, que exclui as diversidades, que inferioriza o próximo. Ser crente, na prática, acaba sendo ser superior as demais pessoas "descrentes", o que inverte a pregação do Cristo que a todos amou, perdoou e serviu.
O capítulo 23 do Evangelho de Mateus nos mostra o quanto continua atual o discurso de Cristo sobre a hipocrisia e vaidade dos escribas e fariseus. Poderíamos utilizar esse texto bíblico para tratar da hipocrisia e vaidade de pastores e padres.
"Os escribas e fariseus estão sentados na cátedra de Moisés. Portanto, fazei e observai tudo quanto vos disserem. Mas não imiteis suas ações, pois dizem mais não fazem. Amarram fardos pesados e os põem sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com um dedo se dispõem a movê-los. Praticam todas as suas ações com o fim de serem vistos pelos homens. [...] Gostam [...] de receber as saudações nas praças públicas e de que os homens lhe chamem 'Rabi'.
Quanto a vós, não permitais que vos chamem 'Rabi', pois um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos. A ninguém na terra chameis 'Pai', pois só tendes o Pai Celeste. Nem permitais que vos chamem 'Guias', pois um só é vosso guia, Cristo. Antes, o maior dentre vós será aquele que vos serve."
Façamos uma breve reflexão: sob o argumento de divulgar o Evangelho, os pastores, padres, cantores pop, jogadores de futebol evangélicos - mas não apenas esses - fazem de tudo para serem vistos, fazem de tudo para aparecer em todos os meios de comunicação possíveis, sejam tais meios "evangélicos" ou não, nas ruas e praças, nas escolas, nas aldeias, o importante é a venda, a catequese, a conversão, o aumento do número de fiéis na igreja, finalmente, o crescimento material da instituição e de seus dirigentes. Tudo isso mascarado com o termo "salvação". Para ser salva a ovelha precisa ser obediente a seus pastores, jamais questionar, por mais duro que seja o fardo e o imposto. Quem há de questionar um "profeta" que adivinha publicamente, que "expulsa demônios", que é o porta-voz de Deus na Terra?
Assim, os líderes "cristãos" não medem palavras: ridicularizam, condenam, diabolizam tudo o que não se insere em suas intrepretações bíblicas; entram em transe ou provocam histeria coletiva, algumas vezes, transes mais violentos do que os transes dos terreiros de Umbanda - gritam, proferem com alarido palavras em "línguas estranhas", desmaiam, contorcem o corpo, correm, pulam de um lado para outro, andam de costas, etc., alegando que isso é uma manifestação do Espírito Santo de Deus; aparecem na televisão se auto-intitulando "mensageiros de Deus", "apóstolos", "discípulos", "pastores", "profetas" e "pais" (o termo "padre", em latim, significa "pai" em português)... e as ovelhas, que nada questionam, que geralmente só lêem o que os dirigentes selecionam, engolindo todas as trapaças, repetem feito robôs a programação insuflada em suas vidas.
Bem pouco humildes são os dirigentes das igrejas Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus, Mundial do Poder de Deus, dentre outras congêneres, maiores e menores. Não há necessidade de citar a Igreja de Roma, fragmento do Império Romano. Vejamos outro trecho do capítulo 23 de Mateus:
"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque bloqueais o Reino dos Céus diante dos homens! Pois vós mesmos não entrais, nem deixais entrar os que querem! Que devorais os bens das viúvas, com o pretexto de fazer longas orações; [...] que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito, mas, quando conseguis conquistá-lo, vós o tornais duas vezes mais digno da geena do que vós! [...] que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. [...] Condutores de cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo! [...] Que limpais o exterior do copo e do prato, mas por dentro estais cheio de rapina e intemperança" [...] Sois semelhantes a sepulcros caiados, que por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão. Assim também vós: por fora pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade. [...]".
Brevemente continuarei esta reflexão. Lembro aos queridos e queridas que visitam este blog, que não sou anti-cristão. Muito pelo contrário, me sinto indignado com a bagunça que andam fazendo com o santo Evangelho. Deus não é propriedade de ninguém e a meu ver deve ser respeitado por todos. Acredito, também, que todas as culturas merecem respeito e que as religiões precisam conviver em reverência mútua - se é que realmente são a favor da Paz e do Amor. Segue mais um vídeo, sobre evangélicos explorando indígenas.

Comentários

  1. é triste ver isto, é triste ver tanta ignorancia.... isso porque dizem que seguem Deus, mas na verdade segem a Sr.a Ignorância isso sim. é muito triste ver isto e se os proprios pagés, caciques não começarem a retirar este povo de suas terras não acredito que o governo faça algo, afinal isso não gera lucro...

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